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terça-feira, 22 de março de 2022

Poema

"persegue-me à toa. nunca

pares para pensar.

 

esquece as ruas. os teus

caminhos estão em

mim.

 

abre os olhos como o postigo

de um pequeno e delicado esconderijo, e

deixa o vento entrar.

 

recolhe o riso e fragrância terna

das flores na primavera. afasta

os lábios em pétalas vermelhas de

paixão. deixa-me roubar-te esse húmido pólen.

deixa que a sede se

sacie à tona dos teus olhos, onde

pretendo cegar.

 

desenlaço o corpo do teu e

demoro longo tempo a

perceber os meus contornos, assim

como a estátua demora a

esquecer a forma desfigurada

da pedra que lhe deu origem.

 

se te alheares, visito-te por

dentro de mim e juro

não acordar enquanto

não vieres pedir desculpa.

fico só, sabendo

que todos os objectos têm a

forma do teu corpo, e

todos os sons se reconduzem

à tua voz. não deambulo

pela casa – excessiva de ti – fujo-lhe

na ausência de movimento e

no desejo de ficar absolutamente

só. lembro-me de como não gostas

de me ver chorar."

 

valter hugo mãe



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